segunda-feira, janeiro 02, 2006

Noite dos Fantasmas

Noite dos Fantasmas

As Origens

A inexistência de registos documentais sobre esta tradição, torna duvidosa a data em que se realizou pela primeira vez. Sabe-se unicamente que finalistas de 1936/37 e 1940/41 não se recordam de tradição alguma com esse nome ou idêntico processada nos mesmos moldes.

A Concretização

A noite dos Fantasmas realiza-se numa das primeiras noites que os "turistas" pernoitam no Colégio. Com estímulos sonoros aterradores, os espíritos de ex-alunos ou de figuras ilustres relacionadas com a vida colegial começam a entrar na camarata dos novos alunos "encarnados" nos corpos dos graduados desse ano. Por breves minutos "assombram" a camarata. Dá então entrada o fundador do Colégio Militar, Marechal António Teixeira Rebelo, que profere umas breves palavras imbuídas de significado bastante profundo, que deverão ser um dos pilares de orientação dos futuros "Meninos da Luz" durante a sua estada nesta Casa e em toda a sua vida, palavras marcantes para os mais novos e sentidas para os mais velhos. Após a entoação do famoso grito colegial - o Zacatraz - os fantasmas retiram-se.

A Simbologia

Se bem que não nos possamos expressar quanto à sua cronologia, já o podemos fazer relativamente ao conteúdo ideológico que lhe está subjacente. Uma leitura linear deste texto, talvez origine uma opinião indiferente ou mesmo desfavorável em relação ao descrito. Há que observar a noite dos fantasmas no Colégio Militar como uma espécie de culto iniciático numa sociedade secreta. É o primeiro contacto que se tem, e talvez o mais marcante e significativo. O simples temor, medo, ou o mais puro dos terrores, sentido enquanto esta decorre, funcionam como uma prova de resistência psicológica, entre as muitas que serão feitas ao longo de toda a vivência no Colégio. Serve também para que, embora de forma inconsciente, os canais cognitivos dos novos alunos se abram e estejam mais atentos ao que se passa em seu redor, ficando, deste modo, a mensagem do Fundador gravada a letras de ouro no subconsciente dos "turistas". É um teste e uma avaliação da timidez e do espírito de aventura dos novos alunos, de modo a que se adaptem mais rapidamente e sem inibições à vivência colegial. Em momentos de desânimo, dificuldade, estes sabem que têm uma mão amiga dos graduados, mais directamente, seguindo-se os outros alunos, ex-alunos... todos eles constituintes da extensa família colegial. Renunciando à paradoxal questão das verdades absolutas (que é ela própria um paradoxo), eu lembraria, no seguimento do já referido, que "os irmãos partilham as tristezas e multiplicariam as alegrias". Isto abarca valores que já escasseiam na sociedade actual, apodrecida pela ganância, como a camaradagem e o espírito de corpo. Serve também, portanto, como apelo inicial à união e à camaradagem dos mais novos sob pena de insucesso, tanto individual como colectivo. Daqui obtemos o tão conhecido lema do nosso Colégio: "Um Por Todos, Todos Por Um". Tudo isto começa a ser cultivado desde esta noite tão especial, embora só mais tarde se tome consciência disso.

A noite dos fantasmas está imbuída de um significado que só os que por ela passaram compreendem. E as mensagens de sabedoria que lhe estão imanentes só serão totalmente compreendidas alguns anos depois de as ter vivido. É este desvendar constante e insaciável que torna a vida colegial empolgante. Constitui, pois, um primeiro mergulho, muito superficial na cultura tão própria desta casa. Foi ela grande responsável pelos vultos ilustres da História de Portugal que aqui se formaram.

Tem, assim, esta tradição um duplo cunho de iniciação e de evocação.

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